Prosseguir até um dia...

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Vista de uma Janela da Vida.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Poema a Pebane.

A rebentação das ondas, para lá das dunas claras,
Ouvia-a no espaço, entre as casuarinas agitadas,
Enquanto o calor da noite dominava a palhota
E me transpirava a calma das férias, num suor
Ensopado no lençol de algodão branco.
A minha insónia prendia-se na aurora lenta
De um dia edílico (mais um), algo tarde,
Na praia onde banhava o meu corpo relaxado;
Eu sentia-me livre, pacífico e extenuado
Ao penetrar na água espumante e esverdeada…
Mais uma braçada, Índico adentro, esplendor,
Deus da maravilha e do areal, que tudo anota
Numa descrição em folhas de páginas imaginadas!
Na escarpa, do lado da rocha, imenso barranco,
Escondia-se o meu delírio, de um mortal que atenta
À natureza imprevisível, do paraíso encontrado;
Nele, o indescritível aventureiro fez de si alarde
Olhando o céu de cores tão finas, brilhantes e raras.
O petromax consumia-se, ibertando a sua luz 
Para me livrar da escuridão que me conduzia à cama;
Os morcegos sobrevoavam, lá fora, pelo ar ameno
Enquanto se alimentavam dos insectos variados.
Quantas vezes hesitei, sobre esse horizonte?
Desconheci a minha ignorância, de uma vida
Invejada por alguns, circunscritos ao seu espaço;
Desfrutei da oportunidade de beber nessa fonte
De sonho, como criança privilegiada e querida.
A despedida resultava num verdadeiro drama
e ainda me lembro bem, apesar de ser tão pequeno! 
Pebane, em Moçambique, na tua costa te realço,
Nos meus primeiros passos, da minha tenra idade
E guardei agradáveis memórias, recordações caras,
Para saborear ao longo do tempo, com generosidade.

 

terça-feira, 26 de março de 2013

A Profecia.


Não sei se os sinos, por mim irão dobrar
Na minha Terra, na que me pariu…!
Sinto que nem sequer se lembra de mim,
Nem dos meus companheiros de ausência,
Nem dos que um dia nela viveram
Porque os anos passaram depressa,
Porque os novos nos desconhecem
E os mais velhos quase nos esquecem…
E deste passado, quem e o que irá cobrar
O mais esclarecido e mais moralista?
Os sinos quedam-se num silêncio de nós,
Dos pródigos, nesta suave sonolência
Que nos empresta os sonhos que tiveram
Os que acompanharam uma memória revista;
Pois quem lá esteve, para contar, viu
E só ficou o que demais interessa…
Se os sinos dobrarem, estranha notícia,
Saber-se-á que alguém teve o seu fim
E na torre altaneira soou a profecia:
Tornará à casa paterna o seu espírito
Já que o corpo ficou noutro lugar finito.

 
Joantago

quinta-feira, 14 de março de 2013

Dinis aos Dois.


Estou a ver-te, pequenito, olhar arregalado,
Centrado na minha fisionomia de adulto,
Tentando perscrutares sinais credíveis
De compreensão, para a tua tenra idade.
Perante a minha admiração passou-me
O tempo, quase ao lado, do seu progresso,
Que acompanhei, um pouco distraído…
Eis a minha herança num menino amado
Que se traduz no meu exacto indulto
De uma vida de circunvalações incríveis
Acompanhadas de considerável velocidade:
O teu aparecimento transformou-me
Num marco de felicidade sentido,
Quando se pensa que a vida está do avesso;
Cada dia que passa, numa palavra ou frase,
Proporcionas-me a alegria da tua companhia,
A paciência que o amor consegue possuir
E o regresso à minha longínqua infância!
São os meus passos que obedecem ao apelo,
Para te acompanhar, fazendo-me sorrir.
«Chega Avô!» Define a fronteira desta fase,
Num desafio à natureza que envelhece;
Descobres com astúcia, tudo o que é novo
E a teu modo, experimentas errando
Para saberes exactamente como acontece,
Mesmo que, por vezes, acabes chorando,
Como poderás pôr em pé, um simples ovo!
Pois passaram dois anos da tua existência
E eis-te um homenzinho irrequieto e curioso,
Que consegues conquistar quem te rodeia,
Algo inapto que me agrada e me faz orgulhoso;
Entre nós só a diferença etária nos medeia…

 

Joantago

quarta-feira, 13 de março de 2013

Registo.


Aparece o sol, algo tímido,
Neste dia coberto e cinzento
Nascido do vento e da neve;
Traz-me um adeus à tarde
Transformado em alegria…
Este é um tempo pardacento
Doado pela natureza de um dia.
Cai o instante que não deve
Trazer confusão, fazer alarde
Do seu poder por mim atraído.

 
Joantago

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Assim é que eu gosto!


Sexta é dia fixe, docemente, de preguiça,
Véspera do “querido” fim-de-semana…
Sonha-se edilicamente com o descanso
E espera-se ansiosamente pelo lazer;
Vamos descontrair malta, gozar…
Sábado é folia, “desbunda”, aquecimento,
Embalagem para a loucura, rimanço:
Beber uns copos, gritar no futebol,
Fazer, se calhar, o que me dá mais prazer.
Domingo, há quem oiça a santa missa,
Há quem prefira mais actividade profana
E passa rápido este período, raio de azar;
Como gostaria que fosse… mais lento!

 
Joantago

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Vou experimentar.


Hoje não vou oferecer qualquer flor,
Nem um perfume, nem um adorno,
Nem um presente com lacinho…
Vou apenas ser carinhoso, sensível
E associar-me á chama do cupido
E entregar-me à difícil missão
De entregar mais do que receber.
Vou experimentar o que é o calor
De um sentimento doce e morno
De um minuto de atenção e beber
Cada momento de paixão, servido
Com amor e vivê-lo devagarinho;
Hoje tenho o dever irresistível
De recuperar o que deixei perdido
No tempo que me distraiu o coração.

 
Joantago

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Perder...


Perder a razão, a vontade, a iniciativa…
Perder um ente, um amigo ou um amor…
Perder a consciência, a calma, a compostura;
Perder a oportunidade, a dignidade, o amor-próprio…
Perder um minuto na vida ou a vida num minuto…
Perder às vezes com ou sem paciência;
Perder a noção de uma sorte excessiva,
Ou de um azar que nem sempre dura
E perder ainda a importância de uma experiência
Que resulta num erro por puro desvario.
Perder a saúde de uma mente insegura
Num corpo que resiste, por ela devoluto…
Perder um instante para partilhar a amizade
Que pretendo manter com sinceridade.

 
Joantago